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ENTREVISTA: S DO ESG NA PRÁTICA11/05/2022
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Por Karen Pegorari Silveira
Conversamos com a especialista em ESG, vice-presidente do Conselho Superior Feminino da Fiesp (Confem) e sócia da TPA Saúde, Grácia Fragalá, para conhecer os aspectos sociais do ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) que as indústrias de todos os portes podem desenvolver.
Para Grácia as empresas já têm muitas práticas sociais, porém não são associadas ou reconhecidas como integrante da dimensão S.

Leia Mais na Íntegra da Entrevista:

Por que os aspectos sociais do ESG são tão relevantes para a indústria?
Grácia Fragalá – Temos constatado que a pauta ESG ganha cada vez mais destaque entre empresas e investidores que buscam estabelecer boas práticas ambientais e sociais e que, das três dimensões consideradas, a Social é a que traz maior dificuldade de mensuração de resultados e interpretação.
Os fatores que integram o “S” foram estabelecidos com base em instrumentos internacionais, como a Declaração dos Direitos Humanos e as Convenções da Organização Internacional do Trabalho – OIT e incorporam, portanto, questões de direitos humanos, trabalhistas, de segurança, impactos das cadeias produtivas, relacionamento com a comunidade, diversidade, equidade e inclusão, entre outros.

Podemos assim afirmar que a dimensão social (o “S” do ESG) se constitui também numa oportunidade para as empresas inserirem o cuidado com as pessoas, em âmbito interno e externo, como elemento estratégico e, embora muitas empresas já reportem ações relacionadas a esses fatores nos seus relatórios de sustentabilidade e responsabilidade social, não havia grande visibilidade para o tema.

A pandemia de Covid-19 colocou o “S” no centro das discussões – tanto para empresas quanto para investidores, trazendo maiores exigências em relação às ações no campo social e à transparência na comunicação, tanto em relação à atenção com os colaboradores, quanto com a sociedade.

Segundo a pesquisa ‘10 Principais Tendências Globais de Consumo 2021’, publicada pela Euromonitor International, no mundo “pós-pandemia”, o ativismo de marca ganhou um novo significado social, forçando empresas a priorizar ações sociais e auxiliando no desenvolvimento de produção e estilos de vida mais sustentáveis. O estudo mostrou que 69% dos profissionais esperam que consumidores se importem mais com a sustentabilidade do que antes da Covid-19; já 73% acreditam que iniciativas de sustentabilidade são essenciais para o sucesso das marcas.

Outras pesquisas apontam na mesma direção demonstrado que o comportamento do consumidor passou por mudanças substanciais nos últimos anos.
Mudou também o olhar do investidor.

Para a indústria e para as empresas, de modo geral, a atenção com a dimensão social do ESG é fator de competitividade, produtividade e alinhamento com as melhores práticas. Investir nas pessoas que conduzem as empresas tem sido fator de sucesso para as organizações. As dificuldades impostas pela pandemia comprovaram que países e empresas que tinham ações estruturadas e governança bem definida enfrentaram melhor os desafios.
 
Quais são os aspectos sociais do ESG que as indústrias mais conhecem e quais ainda não são tão conhecidos?

Grácia Fragalá – Empresas e investidores têm buscado soluções para preencher as lacunas relacionadas à prática da dimensão social. Como já mencionei, embora os relatórios de sustentabilidade e responsabilidade social tragam dados relativos aos fatores que compõem a dimensão social, este ainda é um aspecto que requer melhorias.

De toda forma, sabemos que as empresas, quando olham para a dimensão social, voltam-se para ações em favor da sociedade, valendo-se da filantropia e do investimento social privado o que, considerando-se as enormes carências de recursos no país, é sempre comemorado. Neste campo, temos muitos exemplos de empresas e fundações que investem em educação, saúde, redução das desigualdades, e outras áreas importantes.

O que constamos é que, muitas vezes, falta dar visibilidade para as ações que já realizam – e as quais podem ser ainda potencializadas, para o público interno. Se na dimensão social estão os temas relacionados aos direitos humanos e trabalhistas, há uma enorme gama de boas práticas nas organizações que não são percebidas como relacionadas ao “S” do ESG e que podem ser destacadas.

É possível observar o crescimento das ações de inclusão dos grupos socialmente minorizados: mulheres, negros, público LGBTQIA+. As grandes companhias, sobretudo, definiram áreas e orçamentos específicos para a inclusão da diversidade e o tema, hoje, parece integrar a agenda da alta liderança.
Também os investimentos em saúde do trabalhador são relevantes. Para algumas empresas, os valores destinados aos planos de saúde consomem em média 11% da folha de pagamento. Há que se destacar ainda as ações destinadas à segurança e saúde, com prevenção de acidentes e adoecimentos relacionados ao trabalho, ações de bem-estar, com ênfase mais recentemente para atenção à saúde mental, inclusive (tema antes de difícil abordagem em grande parte das empresas).

As ações de Recursos Humanos, destinadas ao equilíbrio vida pessoal X profissional também se inserem no “S” do ESG: horário flexível, licença maternidade/ paternidade estendidas (pela adesão ao Programa Empresa Cidadã), as políticas de benefícios alimentação e refeição, educação e qualificação dos trabalhadores, e outras ações que muitas vezes não são associadas ou reconhecidas pela empresa como integrante desta dimensão.

Filantropia faz parte do ESG?
Grácia Fragalá – Constatamos um aumento das doações, principalmente durante a pandemia de Covid-19, como revela o Relatório BISC 2020 – Benchmarking do Investimento Social Corporativo, segundo o qual “as empresas investiram R$ 5 bilhões – um aumento maior que 95% em relação à 2019” (BISC, 2021).

Entendo a relevância da filantropia, como já destaquei, principalmente se levamos em consideração o doador individual, pessoa física, que escolhe suas causas individualmente, conforme seus valores e crenças. Também como mencionei, diante das imensas necessidades, esses investimentos devem ser estimulados e serão sempre bem recebidos.

No entanto, quando pensamos nas empresas e na estratégia ESG, pensamos sempre no investimento social corporativo alinhado à estratégia do negócio e, mais recentemente, ao investimento de impacto. No investimento social corporativo, a empresa irá alinhar seu investimento social à estratégia organizacional, definindo políticas claras, áreas e orçamentos específicos para garantir a sustentação da ação no tempo.

No investimento social de impacto, se obtém retorno financeiro e ao mesmo tempo em que se apoia negócios sociais – que tem o impacto positivo como parte do seu modelo de negócios.
 
Quais os primeiros passos para a empresa que quer integrar o S do ESG, independente do porte?

Grácia Fragalá – A primeira etapa para construção de uma estratégia é realizar um diagnóstico para identificação dos desafios e oportunidades em relação aos aspectos sociais do ESG que sua organização pode enfrentar.

Para ajudar na identificação, você poderá usar várias técnicas, entre elas o “brainstorming”. Após a sessão de brainstorming, vem a etapa de analisar e priorizar as ideias.

Após a priorização, são estabelecidas as estratégias para o enfrentamento dos desafios e potencialização das oportunidades identificadas.
Com a estratégia definida, é preciso encontrar maneiras de planejar como ela será implementada. Para isso, se estabelece o plano de ação, que mostrará o caminho para implementar o projeto desenvolvido. Além disso, com ele será possível monitorar o desenvolvimento de cada etapa e fazer possíveis ajustes.
O CIESP oferece para as empresas associadas a Jornada da Indústria pela Sustentabilidade, uma capacitação para as empresas que tenham interesse em incorporar os critérios ESG à estratégia, com ênfase para a dimensão social. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail cores@fiesp.com.br.

Como medir o impacto das ações sociais do ESG?
Grácia Fragalá – Existe uma crescente preocupação pela definição de padrões e indicadores para avaliar os impactos da dimensão social. Os investidores se ressentem da falta de informações sobre os aspectos sociais.

Análise realizada pela “Global Reporting Initiative (GRI) em parceria com o Deutsche Bank, mostra que apenas 14% das classificações “sociais” compiladas pela GRI são direcionadas a investidores. Em contraste, 97% das classificações ambientais e 80% das classificações de governança têm investidores como seu público principal.” (REBELO, Renato – VALOR: https://valor.globo.com/empresas/esg/artigo/o-s-do-esg-brasileiro-nao-ira-evoluir-sem-dialogar-com-a-sociedade-civil-organizada.ghtml. 02/05/2022, acessado em 05/05/2022)

Em janeiro de 2020, o Conselho Internacional de Negócios do Fórum Econômico Mundial (WEF-IBC) propôs um conjunto de indicadores ESG universais que foram apresentados na reunião de inverno em Davos-Klosters, no relatório “Toward Common Metrics and Consistent Reporting of Sustainable Value Creation”.

O relatório propõe um conjunto básico comum com 21 métricas básicas e 34 métricas expandidas baseadas em quatro pilares: Princípios de Governança, Pessoas, Planeta e Prosperidade que os membros do IBC poderiam usar para alinhar seus relatórios principais e incentivar o progresso mais rápido em direção às soluções sistêmicas.

Avaliar os resultados também é uma decisão estratégica e passa por responder a questões básicas: o que medir, por que medir e como medir. Indicadores se prestam a tomadas de decisão, desta forma, as metodologias, mais do que precisão na captura de dados, precisam deter-se sobre o desdobramento e impacto das ações. Avaliar apenas o que está aparente e ignorar as causas e fixar-se obsessivamente na solução de um problema sem considerar a complexidade na qual ele está inserido pode levar a decisões erradas.
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