Portal Ciesp > Canal Interativo > Artigos > Crescimento está acabando com os recursos naturais da China
Artigos
Crescimento está acabando com os recursos naturais da China04/07/2012Andréas Lorenz, em Hamburgo
Der Spiegel
20/03/2005
"O milagre chinês terminará em breve", diz ministro do meio-ambiente do
país
Nos últimos anos o mundo fica fascinado com os progressos econômicos feitos pela China.
Mas tal progresso implicou um alto custo para o meio-ambiente do país. A poluição é um problema sério e caro. Pan Yue, do Ministério do Meio-Ambiente, diz que esses problemas
logo sobrepujarão o país e criarão milhões de "refugiados ambientais".
Der Spiegel - A China está fascinando o mundo com a sua próspera economia, que cresceu 9,5%. Você não está satisfeito com tal velocidade de crescimento?
Pan Yue - É claro que estou satisfeito com o sucesso da economia da China. Mas ao mesmo tempo estou preocupado. Estamos usando matérias-primas demais para
sustentar esse crescimento. Para produzir bens no valor de US$ 10 mil, por exemplo, necessitamos de sete vezes mais recursos do que o Japão, seis mais do que os Estados Unidos, e, talvez
o mais embaraçoso, quase três vezes mais do que a Índia. Não se pode e não se deve permitir que as coisas caminhem desse jeito.
Der Spiegel - Tal ponto de vista não é exatamente generalizado no seu país.
Pan Yue - Muitos fatores se integram nesta questão: temos escassez de matérias-primas, não possuímos terras suficientes e a nossa população cresce constantemente. Atualmente,
há 1,3 bilhão de pessoas vivendo na China, o que representa o dobro da população de 50 anos atrás. Em 2020, haverá 1,5 bilhão de habitantes na China. As cidades estão crescendo, mas, ao mesmo tempo, os desertos estão se expandindo. A
quantidade de terras habitáveis e utilizáveis caiu pela metade nos últimos 50 anos.
Der Spiegel - Mesmo assim a cada ano a China consolida a sua reputação de "terra maravilhosa" da economia.
Pan Yue - Esse milagre acabará em breve porque o meio-ambiente não consegue mais acompanhar tal ritmo. A chuva ácida cai sobre um terço do território chinês, metade das
águas de nossos sete maiores rios está completamente inutilizável, enquanto um quarto da nossa população não possui acesso a água potável. Um terço da população urbana
respira ar poluído, e menos de 20% do lixo produzido nas cidades é tratado e processado de forma ambientalmente sustentável. Finalmente, cinco das dez cidades mais poluídas do
planeta ficam na China.
Der Spiegel - Qual a magnitude dos efeitos dessa degradação ambiental sobre a economia?
Pan Yue - É maciça. Devido ao fato de ar e água estarem poluídos, estamos perdemos entre 8% e 15% do nosso produto interno bruto. E isso não inclui os custos com a saúde.
Além disso, há o sofrimento humano. Só em Pequim, entre 70% e 80% dos cânceres fatais estão relacionados ao problema ambiental. O câncer de pulmão emergiu como a principal causa de óbitos.
Der Spiegel - Como a população está reagindo a esses problemas de saúde?
As pessoas se mudam para regiões do país mais saudáveis?
Pan Yue - Mesmo agora, as regiões ocidentais da China e as áreas ecologicamente estressadas do país não conseguem mais sustentar as pessoas que nelas vivem. No futuro, precisaremos transferir 186 milhões de habitantes de 22 províncias e
cidades. No entanto, as outras províncias e cidades só são capazes de absorver 33 milhões de pessoas. Isso significa que a China terá mais de 150 milhões de migrantes ecológicos,
ou, se vocês preferirem, refugiados ambientais.
Der Spiegel - O seu governo não tenta controlar a poluição?
Pan Yue - Sim, e em algumas cidades, tais como Pequim, a qualidade do ar, na verdade, melhorou. Além disso, as águas de alguns rios e lagos são hoje mais limpas do que no passado. Atualmente há mais áreas de conservação e algumas cidades-modelo se focalizam especificamente na proteção ambiental. Estamos replantando florestas. Aprovamos leis adicionais e regulamentações mais rígidas do que as do passado e elas
estão sendo aplicadas de forma mais rigorosa.
Der Spiegel - Mas os fanáticos pelo crescimento econômico em Pequim ainda continuarão atuando como antes.
Pan Yue - Eles ainda estão desempenhando o papel de liderança - por ora. Para eles, o produto interno bruto é o único parâmetro para avaliar a performance do governo. Mas nós também estamos cometendo outro erro: estamos convencidos de que uma economia próspera é automaticamente acompanhada de estabilidade política. Creio que isso é uma grande tolice. Quando mais rapidamente cresce a economia, mais depressa corremos o risco de enfrentarmos uma crise política caso as reformas políticas não
acompanhem esse ritmo. Se a lacuna entre ricos e pobres se ampliar, regiões da China e a sociedade como um todo se tornarão instáveis. Se a nossa democracia e o nosso sistema
legal ficarem para trás do desenvolvimento econômico geral, vários grupos na população serão incapazes de proteger os seus interesses. E há um outro erro quanto a esse raciocínio...
Der Spiegel - Que erro?
Pan Yue - A idéia de que o crescimento econômico nos fornecerá os recursos financeiros para lidarmos com as crises relativas ao meio ambiente, às matérias-primas e ao crescimento populacional.
Der Spiegel - E por que isso não pode dar certo?
Pan Yue - Não haverá dinheiro suficiente, e estamos simplesmente perdendo a corrida contra o tempo. Países desenvolvidos com uma renda per capita entre US$ 8.000 e US$ 10.000 podem arcar com este custo, mas este não é o nosso caso. Antes de atingirmos uma renda per capita de US$ 4.000, diferentes crises, de todos os formatos, nos atingirão.
Não estaremos suficientemente fortes sob o ponto de vista econômico para superar essas crises.
Der Spiegel - Você defendeu a adoção do chamado "produto interno bruto verde". No que isso implicaria?
Pan Yue - É um modelo que leva em conta os custos do crescimento, como, por exemplo, a poluição ambiental, e é um tópico que estamos discutindo com especialistas alemães.
Queremos que a performance dos funcionários seja avaliada não só em termos de crescimento econômico, mas também de como eles resolvem problemas ambientais e questões sociais.
Der Spiegel - A sua agência tem autonomia para coibir os crimes ambientais?
Pan Yue - Recentemente cancelamos 30 projetos, incluindo várias usinas de energia elétrica - uma delas na Represa de Três Gargantas. As empresas envolvidas no projeto descumpriram a lei ao deixarem de avaliar que efeito os seus novos investimentos teriam sobre o meio-ambiente.
Der Spiegel - Mas houve permissão para que 26 outros projetos tivessem continuidade.Eles só tiveram que pagar pequenas multas - uma ninharia, comparado aos bilhões que investiram.
Pan Yue - Infelizmente, isso é verdade. E é por isso que as nossas leis e regulamentações precisam ser reformadas. Ainda que tenhamos pouco poder, cancelaremos projetos ilegais, incluindo as economicamente poderosas fábricas de aço, cimento,
alumínio e papel. E ignoraremos as agendas seguidas por autoridades e companhias influentes.
Der Spiegel - Vários agressores do meio ambiente estão oferecendo muito dinheiro ou se aproveitam de suas conexões políticas...
Pan Yue - A minha agência sempre se voltou contra a tendência majoritária. Durante esse processo, sempre houve conflitos com poderosos grupos lobistas e governos locais
fortes. Mas o povo, a mídia e a ciência nos apóiam. Na verdade, a pressão é para mim um motivador. Ninguém vai me desviar da minha rota atual.
Der Spiegel - A China não possui um movimento ambiental de base. Até o momento, os cidadãos tiveram poucas oportunidades para contestarem projetos questionáveis. Os tribunais às vezes sequer aceitam as acusações feitas pelos cidadãos, e a manifestação oposicionista não é permitida.
Pan Yue - A co-determinação política deve ser parte de qualquer democracia socialista. Quero que haja mais discussões com as pessoas afetadas. No entanto, não sou o tipo de pessoa que age no sentido de parecer democrático para o mundo exterior.
Precisamos de uma lei que permita e garanta a participação pública, especialmente quando se tratar de projetos ambientais. Se for politicamente seguro se envolver com e ajudar o meio-ambiente, todas as partes serão beneficiadas. Temos que tentar
convencer a liderança central quanto a isso.
Tradução: Danilo Fonseca
Visite o site do Der Spiegel
Compartilhar:
Links
- • CIESP
- • CNI - Confederação Nacional da Indústria
- • Fundação Abrinq
- • Junta Comercial do Estado de São Paulo
- • Prefeitura de Campinas
- • República Federativa do Brasil
- • Telecurso
- • AGEMCAMP – Agência Metropolitana de Campinas
- • 1º Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda
- • Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo